sexta-feira, 15 de março de 2019

Como Vejo

De forma estranha:
Vejo as palavras como formas e imagens
Lembranças como paisagens
Recordações como pinturas
Pensamentos como obras de arte
Que sempre estão penduradas nas paredes da minha cabeça.
As formas se tornam palavras
E a forma como digo tornam-se monumentos
Embora ninguém os queira ver, eu os aprecio
Cada tom das paisagens lembra uma pincelada ou uma palavra
E as cores se misturam, formam um quadro de valor inestimável.

De forma sem nexo:
Vejo como milho vê o óleo e sonha em se tornar pipoca
Como uma bateria fraca espera o carregador
A forma com que o alvo espera ser atingido
Como o pêndulo do sino aguarda o ciclo de uma hora para tocar
parecido com a semente aguarda a morte pra dar a vida a outra árvore
Como Navio aguarda ansioso antes de ser lançado pela primeira vez ao mar
Do jeito como a ilha solitária deseja ser encontrada e habitada

De Forma Romântica:
Assim como a nuvem espera pelo vendo para passear
Como a terra seca aguarda a chuva
Como o leito seco do rio aguarda as torrentes da montanhas
E a tartaruga vai à superfície respirar depois de muito tempo
Triste como o girassol paralisa durante a noite
Fraco como a fruta madura alvejada pelo bico do pássaro faminto
Como a nudez aguarda pela roupa
E a lua vista quando ela mesma nada vê
Como a fome deseja ser saciada
E a sede amortecida.

O Que Dizer?

Não consigo palavras.
Não tenho mais desculpas
Nem posso querer que seja diferente
Mas fiz o que pude para amenizar o entrave
E resgatar o pouco de ar que me anda ausente
Não posso pedir nada
Nem arriscar com palavras erradas
Não tenho direito; não mereço que leia.
Meu olhar se perde de vez em quando
Meu rosto cora e o sorriso vagueia
Entretanto, não mereço que leia.
Não me mereço que me olhe
Nem que de mim te lembre
Não posso pedir que eu te veja
Não, não
Não consigo as palavras
Nem tenho mais desculpas.
Mas ainda assim, confesso,
Mergulhado em meia a tantas coisas,
volta e meia volto à superfície
E retomo o fôlego para não morrer sem que antes te diga
Que não tenho palavras
Nem tenho mais desculpas!

Envelheci

Envelheci.
Olho no espelho e vejo o semblante roído pelo tempo
Impossível não lembrar dos cabelos, hoje quase inexistentes.
Dores que as vezes aparecem sem justificativas.
Insônia que já se degladiou com o cansaço e perdeu no final
Corpo que teima em pensar que isso tudo é normal
Olhando para o passado, me dá vontade estender o braço
E alcançar sorriso e abraço
Mas a distância o antes e o agora me jogam na cara o cansaço.

Eu envelheci sim.
Não suporto mais coisas simples que antes nem me importava
Respondo a coisas que antes ficava calado
Mas ainda ouço musica alta, tomo banho de chuva
E não tenho mais medo de resfriado; dizem que mata os velhos 😂
Não me importo sobre muitas coisas faz tempo.

Envelheci, é claro.
Perdi massa muscular.
Os fios que não caíram, embranqueceram.
Me iludo achando que ainda tenho a mesma resistência.
Me pergunto: que resistência?
Ainda corro, mas não como antes.
O ar não me falta, mas a motivação praticamente não existe.

Envelheci com esforço.
Não pude evitar e teve vez que até desejei apressar.
Me julguei muito e confesso que me condenei.
Fui muitas vezes meu próprio júri.
Em vão tentei ser meu advogado
Já que a mim mesmo acusava.
Olhava no espelho pra ver me me inocentava.

Envelheci na Prisão.
Nas celas frias e solitárias, imaginárias
Imaginárias que tinhas o poder de me acorrentar no tronco
E que surravam-me com azorrague no interior do cárcere
Sangrava cor de palavras a cada chibatada
Imaginárias que não me deixavam dormir
Que tornavam as noites tão longas
Tão longas quanto a distância que me separava da juventude.

Envelheci lutando.
Luta que muitas vezes perdi.
Nocauteado sem que o gongo soasse
Sem que alguém intervisse
O físico sentia o envelhecer naquela batalha perdida
As vezes parecia estar em um campo de combate
Guerreiros caindo ao meu lado
E eu, nem mesmo era um pobre soldado,
Ainda sim lutava.

Envelheci escrevendo.
Escrevi de muitas maneiras a mesma coisa
Desenhei palavras com linhas tortas
E sempre foi a melhor imagem que imaginei.
Cores não me faltaram...
As palavras nem sempre combinaram
Mas escrevi cada detalhe que conheci na trajetória que tracei.

Envelheci registrando momentos.
Momentos em que magoei e fui magoado
Que amei e fui amado
Corri, mas fui apanhado
Tentei esconder o coração, mas fui achado.
Momentos que beijei e fui beijado
Em um tempo que fugia do passado.
E momentos como este agora,
Percebo que naquele mesmo lugar ainda continuo parado.

Envelheci imaginando
Como seria se por quase tudo não tivesse sido atropelado
Seria talvez como um dia havia sonhado
Um sorriso largo que se me abria
E um olhar esverdeado que me desnudava.
Imaginava que músicas eu compunha
E as letras faziam sentido
E ao ouvi-las ainda hoje despertassem o íntimo
E trouxesse tudo para a realidade.

Envelheci para mim mesmo.
Não precisava nem as rugas para denunciar
Eu me encarreguei de provocar minha própria canseira
Cansei de sonhar por um tempo
Sonhei depois de velho que ainda poderia muita coisa e
Acordei ao olhar no espelho e ver as fibras sem elasticidade no rosto
Me acusando de mantê-las,
Mesmo no tempo em que se esforçavam por mostrar um sorriso
Que de sem graça perdeu a força e o gosto.

Envelheci lembrando
Lembrando que poderia ter feito diferente
Mas as escolhas que fiz foram verdadeiras e extravagantes.
Lembrei de encontros proibidos,
Lembrei dos lábios que emanavam e destilavam néctar
Das mãos que me abraçavam
Lembrando de cada detalhe que jamais me escapava
Pois a cada cheiro, abraço ou beijo
Por completo me entregava.

Envelheci me remontando
Desconsertado várias vezes
Desmontado outras tantas pelo mesmo motivo
Os remendos foram cicatrizando
O sangue esvaído secou, sumiu; não foi notado.
Quebrado e no canto para não ser pisado.
De forte como cetim, rasguei como pano velho e
Me recompus entre pedaços, costuras e retalhos

Envelheci querendo
Quiz ser compreendido 😢
Em momentos em que a confusão em mim era mais forte.
Quiz demonstrar o tamanho do monte grande com que eu amava
Mas se fracassei em planície,
Como poderia subir a montanha que tanto desejava?
Passei sede a beira da fonte,
Mas mergulhei no rio límpido que me refrescava.
Quiz ser eu mesmo
Quiz tanta coisa que por fim não tinha força pra lutar por nada.

Envelheci, mas sobrevivi
Sobrevivi às noites angustiantes que me entenebreciam
Também aos dias cruéis que eu mesmo forjei
Sobrevivi às quedas emocionais;
Às decepções que causei, me feri e enclausurei.
Sobrevivi para pedir perdão
Para sentir o vento no rosto
E saber que as vezes ainda sinto o mesmo gosto
O mesmo frio na espinha
E dizer que o ponto final não faz parte da minha linha

🙏
®i¢°

Depois de Pensar muito

Não consigo te ver ou te ouvir
Mas não consigo passar sem olhar
Controlo pelas pontas pra não ligar
Entretanto não consigo passar pela lista de contatos e não selecionar
Mereço ser odiado talvez
Mas quem tem total controle sobre si mesmo?
Quem nunca cometeu loucuras?

Não consigo voltar no tempo
Mas parece que o tempo se encarrega disso
Não poderia mudar as estações
Não seria justo qualquer alteração temporal
Controlar as épocas internas são mais difíceis
Posso até fingir frieza
Mas a brasa interna inflama sem que o vento sopre
Não controlo as chamas
Que queime enquanto houver o que queimar.

🎸🎶🎵🎼 ®i¢0

Parabéns!

Parabéns...
®i¢0

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Vossa Graça

Onde está vossa graça que ocultaste por entre o relevo do rosto e disfarçaste por debaixo de uma mecha de cabelos?

Onde está vossa alma, que desprendida de todas as outras, tem ser ocultado e negado si mesma o libertar-se desse viver, vivendo como se fosses penada?

Onde puseste teus pés, que tanto doem em terrenos planos que não doem em outros, calejando-os, mesmo com tão belos e confortáveis sapatos?

Onde estagnaste teu coração, que em meio a aparente Paz de tantos outros, inquieto ficas, sangrando no invólucro do circunspecto?

O que aconteceu com vossos olhos, que fuguraste tem entre nós outrora, mas agora não vislumbra a cena que se te oferece nem se percebe o clarão que ainda possuis?

Mostra-me tuas prisões e te mostrarei as saídas
pergunta-me onde estás e te direi para onde ires
olha-me de novo e Encontrarei tua Essência outra vez.

sábado, 5 de janeiro de 2019

Ausências

O tempo vai passando e a gente vai se acostumando com algumas coisas enquanto que com outras a gente tem que conviver como se elas não existissem mais. Ausência de pessoas que amo é uma coisa odeio, mas aprendi a conviver pacificamente com ela e Finjo que nem existe.
Agora mais do que nunca eu preciso dar as mãos a ausência, pois já é o terceiro dia que meu pai se foi.
Ausência endurece qualquer coração e pode endurecer qualquer alma e na verdade pode até mesmo petrificar sentimentos e causar uma estagnação Se não usar de muita sobriedade todos os dias.

Enquanto o tempo passa eu vou convivendo com ausências de pessoas que sempre amei. O ano que passou foi um ano de muitas surpresas de muitas coisas fora dos planos e acontecimentos que jamais planejei que me tomaram de surpresa me deixaram atônitos. Mas eu acredito que as presenças me ajudaram a superar as ausências e terei que conviver com a ausência do meu pai para sempre Já que conviveu com muitas ausências faz muito tempo.

Faz muito tempo que eu deixei de viver para mim mesmo; mas e-mail ou no meio e nesse trajeto da vida que escolhi ainda consigo respirar e viver um pouquinho de cada vez sempre pensando que a minha vida se não valer a pena para mim talvez valha a pena para alguém.