Trilhos

A vida parece às vezes com uma viagem de trem.
A gente quase não percebe as subidas e descidas, mas é quase impossível não perceber as mais diversas faces da natureza nos lugares que hospedam os trilhos.
A viagem começa cheia de empolgação; a paz reina quase absoluta...dificilmente há risco de um acidente, já que o trem viaja tão solitário. É de se esperar paciência, haja visto que a viagem pode demorar bastante. A quilométrica corrente de vagões realmente não tem muita pressa. É pesado e seus compartimentos parecem oferecer certo tipo de segurança, afinal são aços bem testados. Ajuda a disfarçar a lentidão a calmaria que deslisa sobre os dormentes enquanto até dormem alguns na calmaria. Passear de um vagão para outro é quase uma ventura, já que são bem limitadas as opções de diversão durante a viagem. Há quem possa se gabar de viajar em um trem bala! Isso pode ser bom para um executivo, mas para quem quer viajar se divertindo, não precisa ser tão exigente.
Até mesmo um bondinho pode te tirar da rotina e renovar seus ânimos.
Acredite! Isso funciona.

"Sair dos trilhos" poderia ser apenas uma expressão para os maquinistas, agentes ferroviários e passageiros.
Na verdade, ninguém deseja pensar nessa possibilidade!
Mas pode ser uma realidade-metafórica-real quando se trata de pessoas.
Pessoas que conhecemos durante nossa vida, são como paisagens que encontramos nesta longa viagem.
Pena que alguns saem tão rápido do trem que nem pode considerar uma viagem.
A estação de uns são mais perto que de outros. Viajam tão pouco que nem percebem a beleza que se pode ver pelas janelas. Alguns não chegam nem apreciar o que se pode fazer, indo do primeiro ao último vagão.
Outros não sabem nem valorizar o bilhete que lhes custaram um certo preço.
Não somos nós quem pilotamos o trem; nós apenas viajamos.

Há paisagens tão belas em nossa viagem que desejamos parar o trem, sentar debaixo de uma árvore e pintar um lindo quadro. Apreciar como se não pudéssemos vê-la de novo.
Há cenários tão encantadores que são quase impossíveis de serem copiados.
Há tão belos espetáculos da natureza que ficam permanentes fixados na nossa memória; jamais conseguiremos pintar com tanta perfeição.
A viagem pode não ter volta, por isso cada lugar visto será único e permanente.

Enquanto não descarrilo, levo comigo minhas pinturas e meu grande quadro.
Sim, meu lindo e mais belo quadro que pude pintar.
Ele é colorido por todos os lados...sua moldura ainda me impressiona.
Suas cores são perfeitas e suas formas me deixam estasiado.
Só por esta paisagem já valeu a pena ter embarcado!
Ainda tenho o pincel e o desejo de continuar pintando, mas não precisa:
O quadro já é perfeito e está terminado. Não há preço que o compre.
Fixei-o na parede da minha memória e lá está bem guardado.

Nunca irá para leilão, nem jamais para museus!
Nem o mais perfeito pintor poderia reproduzi-lo. É mais que obra de arte.
É um pedaço da minha história que não ficou para trás na viagem:
Entrou no trem e viaja comigo.

Não é fruto de uma habilidade humana:
é fascínio de uma alma que viveu antes de pintar,
pintou e se misturou com a pintura,
se lambuzou e ainda cheira a tinta fresca,
e ainda olha para a tela como se tivesse apenas
começado a pintar.

Rico

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